O que o senhor nos diria da violência?
A violência é, sem dúvida, algo da própria natureza humana, quando irrompe indebitamente, apresentando aquilo que a justiça nos ensina a nomear como sendo periculosidade. Quando a nossa periculosidade atinge graus muito altos aparece a violência como sendo um sistema de vida que recorda, de algum modo, a selva, de onde, do ponto de vista da evolução dos milênios, todos procedemos. Urge que o pensamento religioso, atualmente um tanto esquecido, possa novamente socorrer-nos a todos, desde os primeiros dias de nossa vida infantil, reconduzindo-nos para Deus, a fim de que não estejamos à mercê de princípios materialistas que, em verdade, embora respeitáveis pela sinceridade com que se expressam, não definem as verdades da vida, porque todos somos espíritos eternos diante de Deus. Diante da Lei de Causa e Efeito, a violência é um dos mais lamentáveis estados humanos e um dos maiores problemas que estamos enfrentando na atualidade, problema para nós todos, e que só o amor, só o coração voltado para Deus, ao que cremos, segundo o ensinamento dos Bons Espíritos, é que o poderá curar.
Violência no mundo: estaríamos vivendo o fim dos tempos?
Permitimo-nos uma contra-pergunta: não será a violência o resultado de nosso pretendido afastamento da fé religiosa, segundo o materialismo da inteligência deteriorada, que tenta convencer-nos de que não passamos de animais sadios ou doentes da Civilização?
Como o senhor vê a aplicação da pena de morte, por qualquer que seja o motivo, em qualquer parte do mundo?
Nosso Emmanuel, que está presente, nos pede considerar, nos convida a recordar, na condição de cristãos, a Parábola do Bom Samaritano, um ensinamento antigo, mas que porta uma nota de profunda significação. É que, dentro da Parábola, existem as qualificações, menos uma: um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu em poder de malfeitores que o feriram e o deixaram sem qualquer comiseração. Em seguida, passou um religioso, que o viu e seguiu adiante. Depois veio um levita, que o viu também e passou adiante… Em seguida, veio um samaritano, considerado homem até mesmo sem qualquer qualificação religiosa, mas era um samaritano e fez ali o papel da caridade, do amor que devemos uns aos outros. Após aparece um hospedeiro. Todos os que apareceram foram qualificados pelo Senhor, menos a vítima: a vítima era um homem. E o homem, seja quem seja, merece o nosso respeito. Os últimos, que estão nas prisões, por crimes catalogados em nosso Código Penal, são doentes, naturalmente que a Justiça exerce a função de Medicina Espiritual. Cada sentença é uma cirurgia no corpo espiritual daquele que necessitou da segregação para ser convenientemente tratado. Mas, nós somos cristãos. Não podemos censurar ninguém, mas devemos pedir a Deus para que os nossos magistrados, os responsáveis pelos nossos tribunais de Justiça se compadeçam de nós e que ninguém morra em nome da Justiça. Por que nós todos somos irmãos. O cárcere evoluiu tanto depois de Jesus! Nós temos penitenciárias que são verdadeiras escolas. Conheço pessoalmente a penitenciária de Neves, a dezoito quilômetros da terra em que nasci, que honra o Governo Do Estado De Minas Gerais. Nós devemos acreditar que a Justiça terá recursos para criar estâncias de tratamento espiritual, para segregar a nós outros, quando estivermos em desacordo com os princípios de fraternidade e de respeito, que nos regem uns diante dos outros. Mas a pena de morte é alguma coisa que merece a nossa oração, pelos nossos magistrados, para que eles não percam a alma cristã, o coração, que lutamos tanto para edificar. Dizemos isto respeitando as determinações da Justiça em nossos tribunais. Mas a vítima era um homem, um homem que a Parábola não se sabia quem era; se era abastado ou menos abastado, se amadurecido, se jovem, se era um elemento da sexualidade dita normal ou uma criatura filiada a conflitos sexuais muito grandes. Nós não sabemos a que raça pertencia aquele homem, de onde é que ele vinha, a que família pertencia, o que ele buscava. A vítima era um homem. E aqueles que estão considerados fora da lei são doentes que a Justiça saberá tratar, para devolver ao equilíbrio e à normalidade. Mas, a vítima, na Parábola, podia ser um de nós.
E, finalmente: numa época de tanta violência, desamor, inquietude, ainda há esperança para a Humanidade?
Estamos certos de que nós, os cristãos de qualquer procedência, não podemos esquecer a promessa do Cristo: – “Estarei convosco, até o fim dos séculos”. A violência, o desamor e a inquietude são estágios humanos, suscitados pelas criaturas humanas, mas a vitória da paz e do amor, entre os homens, pertence a Jesus, o Cristo de Deus.
De vez em quando aparece alguém que, em virtude de algum problema social mais grave – a violência, por exemplo – pede a pena de morte. O Sr. concorda?
A pena deveria ser de educação. A pessoa deveria ser condenada mas é a ler livros, a se educar, a se internar em colégios ainda que seja, vamos dizer, por ordem policial. Mas que as nossas casa punitivas, hoje chamadas de casa de reeducação, sejam escolas de trabalho e de instrução. Isto porque toda a criatura está sentenciada a evoluir e nunca sentenciada à morte pelas leis de Deus, porque a morte tem seu curso natural. Por isso, acho que a pena de morte é desumana, porque ao invés de estabelecê-la devíamos coletivamente criar organismos que incentivassem a cultura, a responsabilidade de viver, o amor ao trabalho. O problema da periculosidade da criatura, quando ela é exagerada, esse problema deve ser corrigido com a educação e isso há de se dar no futuro. Porque nós não podemos corrigir um crime com outro, um crime individual com um crime coletivo.
Fontes:
Questões 1 e 4, do livro “Entender Conversando” – Editora IDE.
Questões 2 e 3, do livro “Chico de Francisco” – Editora CEU.
Questão 5, da revista espírita “Informação” – n 88.