O povo está muito nervoso. Se você for passando na rua e alguém lhe jogar uma pedra dizendo “é aquele ali”, o povo lincha. Em síntese, todos estão sofrendo muito. Como o senhor acha que ficará o país?
O desespero é uma doença. E um povo desesperado, lesado por dificuldades enormes, pode enlouquecer, como qualquer indivíduo. Ele pode perder seu próprio discernimento. Isso é lamentável, mas pode-se dizer que tudo decorre da ausência de educação, principalmente de formação religiosa.
O clima no Brasil é de desesperança. Nós somos lesados num lugar e desistimos de brigar, “porque todo mundo está roubando mesmo”. Ou então, nos mergulhamos na letargia e justificamos: “A minha vida está boa, porque arrumar confusão para ajudar os outros?” Eu pergunto: como se pode conciliar o espírito cristão de solidariedade com o pacifismo que Cristo pregou, mandando oferecer a outra face?
Eu dou assistência a todos os companheiros de periferia que sofrem grandes dificuldades. Sei que Uberaba é muito rica, mas nunca fui à casa de ninguém pedir nada. Levo o que tenho, ou aquilo que me colocam nas mãos. Então, conversando com irmãos em penúria, procuro amenizar a revolta deles e não aumentá-las. Se a criança está doente e eu posso dar remédio que não dependa de uma autoridade médica, faço o possível. Se o indigente morre e seus parentes não querem que vá para uma sala de anatomia, providencio o enterro. Agora, se os governantes tivessem amor e espírito de compreensão por seus governados, tudo seria modificado. Mas isso teria de começar de cima. Alguém me perguntou: “Chico, a assistência é serviço do governo. Por que você dá assistência?” Respondi: “Dou assistência como a pessoa que vê a casa do vizinho incendiada e, até que o corpo de bombeiros apareça, a casa já se foi. Então, pelo menos um balde d´água eu tenho que carregar, não é?”
Hoje está difícil falar em Pátria do Evangelho diante de tantos problemas que o Brasil enfrenta, a corrupção, a imoralidade. É difícil falar em esperança…
O nosso Humberto de Campos escreveu o livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” baseado em livros e arquivos do Mundo Espiritual. Mas ele disse que é preciso compreender que o dono disso tudo, da Pátria do Evangelho, morreu crucificado. Nós não devemos pensar que a Pátria do Evangelho é uma vantagem para nós. É trabalho. E numa hora de guerra vamos sofrer muito. Nós deixamos de ser um país essencialmente agrícola, como se dizia antigamente. Hoje somos o terceiro país do mundo em fabricação de armas.
Como resolver essa situação de inflação, esse clima onde todos acreditam que o Brasil esteja no caos?
O problema só vai ser resolvido quando a nação for administrada por homens respeitáveis. O Brasil está sem líder.
E como os espíritas podem ajudar o Brasil?
Fazendo esforço para cumprir os nossos deveres e deixarmos um exemplo de honestidade.
Nós falamos que o Brasil é o terceiro país em fabricação de armas. E os armamentos a nível mundial? A possibilidade de uma guerra é remota?
Não é remota, não. Os armamentos continuam sendo fabricados. O Gorbachev disse ao presidente dos Estados Unidos, nessa Conferência de Genebra, que “se nós autorizarmos e incentivarmos uma guerra à base de mísseis, não vai haver vencedores”.
O Sr. não acha que lutar pela implantação definitiva da justiça social entre todos os homens, pugnar, intransigentemente, em defesa dos direitos humanos em todos os quadrantes da Terra não seria muito mais importante do que a simples dádiva de esmolas, que muitas vezes não passam de migalhas que caem das mesas fartas dos comensais da vida?
Estimaria mais se você dissesse, com o seu nobre discernimento: “trabalhar pela implantação definitiva da justiça social entre todos os homens”, porque o verbo lutar, em muitos casos, significaria agitar ou “conflitar”. Creio que todos os cristãos sinceros, estejam vinculados à interpretação espírita do evangelho de Jesus ou não, permanecem construindo em paz o reinado da justiça no mundo, sem a precipitação dos que se inclinam para transformações violentas e sem a inércia dos apáticos. Relativamente à chamada “esmola”, não vejo na migalha de recursos materiais que se dá ou que se recebe um gesto tedioso de quem usufrui mesa farta, e, sim, um elo de simpatia e de amor entre as criaturas que se propõem a encontrar um processo de ligação espiritual entre si, preparando-se instintivamente para mais alta compreensão da fraternidade. Sem qualquer idéia de esnobar esse ou aquele lance autobiográfico, peço permissão para dizer a você que, quando fiquei órfão de mãe, aos cinco janeiros de idade, à distância de meu pai enquanto permaneceu viúvo, aprendi a agradecer às pessoas de coração generoso que me davam um pão ou um prato de alimento, no transcurso do dia, porque, quantos me prestaram esse benefício se fizeram para mim benfeitores que me livraram da tentação do furto e, assim como me sentia feliz em receber essas dádivas para a minha própria sobrevivência, creio que as pessoas que me amparavam também se sentiam satisfeitas com a minha alegria. Reconheço que virá um tempo em que a assistência social velará por nós todos; mas até que isso aconteça, em plano maior (e admito que semelhante realização deverá vir para nós e por nós sem conflitos sangrentos), até que isso aconteça, repitamos, você aprovaria alguém que vê os seus irmãos em penúria, sem se mover, de modo algum, para auxiliá-los, pelo menos, em pequenina parcela de apoio? Será justo que eu deixe o meu vizinho desfalecendo em necessidade, sem dividir com ele os centavos que posso administrar, a pretexto de aguardar o tempo em que me seria permitido administrar aquilo que não pertence, esquecendo-me de que posso e devo repartir a parcela de recursos que a Divina Providência me emprestou para meu usufruto?
Atualmente vemos no Brasil problemas sociais muito graves: milhões de crianças desabrigadas, passando fome; pessoas que moram em favelas, mocambos e lugarejos da pior espécie. Há também, uma distribuição de renda muito falha, enfim, estamos vivendo dias de completa escuridão para o nosso povo. Como o Sr. se explica à opinião pública diante do livro que o Sr. psicografou, livro este intitulado “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”?
O fundador do Evangelho foi crucificado. Eu acredito que diante desta verdade, o Brasil não pode ter privilégios. Então, devemos esperar acontecimentos muito sérios…
Agora, o problema no Brasil, pessoalmente, opinião minha, o que deveria ser faceado pela comunidade brasileira como um dos problemas mais sérios é o problema do trabalho. O amor ao trabalho e a fidelidade ao cumprimento do dever. Se nós todos trabalharmos, se carpirmos a terra, se construirmos, se lidarmos com a pedra, com o barro, com a sementeira, com os fios; se tecermos; se todos nós nos unirmos para criar valores em nosso benefício, a pobreza deixará de existir.
Mas, enquanto alguns trabalharem e muitos outros não quiserem trabalhar, o problema não será resolvido. Este problema não é de fortuna. Todos somos ricos… Todos nós nascemos, pelo menos nos casos normais, com um corpo, que pode trabalhar, que pode servir, que pode ser manejado para o bem; esta é a verdadeira riqueza. Um homem pode possuir milhões, mas, se está atacado pelo câncer, por exemplo, ele sente que a riqueza dele é o corpo…
Fontes:
Questões 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7, da Revista Espírita “Informação” – n 141.
Questão 8, da Revista Espírita “Informação” – n 115.