“Uma jovem, grávida de poucos meses, havia se separado do marido. Aflita, indagou ao Chico se lhe seria lícito o aborto, já que passara a experimentar certa aversão por aquela gravidez.
Olhando-a com ternura paternal, Chico ponderou;
– Filha, o casamento pode lhe ter sido um pesadelo, mas essa gravidez pode ser o seu sonho…”
“Um amigo lamentava os desatinos que havia cometido na vida. Na fila que se formava ao término da reunião no “Grupo Espírita da Prece”, Chico o ouvia… De maneira sucinta, ele lhe ia falando de seus insucessos, sempre apontando culpados pelos seus desajustes – o pai muito violento, os irmãos oportunistas, os familiares omissos…
Quando, finalmente, terminou de falar, ante a nossa surpresa, sem esperar por algo que o médium pudesse lhe dizer, virou-se e foi embora.
Olhando-nos de modo significativo, Chico comentou conosco em voz discreta:
— A gente nasce sem problemas, mas não dá conta de viver sem eles… Há pessoas que, se não tiverem alguma coisa do que se queixar, adoecerão seriamente…”
“— Diz o Evangelho que as nossas provas são um índício, não um fim… Estamos, dentro delas fazendo um vestibular de promoção espiritual ou ficamos sob determinadas dependências…
O nosso espírito tem que estar ajustado às Leis de Deus. Paciência operosa, esperança ativa não são simples palavras… Podemos estar sofrendo, estar aflitos, mas, se estamos desesperados, criando problemas para os outros com os nossos problemas nós não estaremos atravessando os nossos problemas com as nossas almas ligadas às Leis de Deus… Não estamos liberados só porque sofremos; depende de nossa atitude a vitória que desejamos alcançar. Estejamos com o nosso pensamento em Deus, com a nossa alma a doar de si, sem pensar em si… Vamos podar o sofrimento daqueles que Deus nos deu à convivência, para que eles sejam mais felizes; calar as nossas dores, pacificar o nosso próprio espírito quando tudo nos induz ao desespero (…) Existe algo que nós podemos dar sem termos: é a felicidade! Precisamos aprender a sofrer sem mostrar sofrimento, atravessar dificuldade sem colocá-la na pauta dos outros… Estamos matriculados na prova; vamos ver qual será a nota”.
“— Essa questão do perdão — uma das técnicas mais eficazes para aplicarmos na desculpa incondicional, será nos colocarmos no lugar da pessoa, mas com muita sinceridade… Se fizermos isto, vamos encontrar a pessoa com tantas dificuldades, tantas lutas, que nosso coração se enternecerá para compreender aquela criatura muito mais como um irmão doente… É muito importante pensarmos na condição do outro… Muitas vezes, a pessoa ofende sem nenhuma intenção de ofender; de outras vezes, ofende porque está doente, está desconformada; às vezes, é mesmo o problema da irritação que Ihe sugere reações negativas… Todas as vezes que encontramos alguém para nós mesmos antipática, uma pessoa que não nos cativa, pelos modos, pelas palavras, se nos colocarmos no lugar dessa pessoa, a impressão da antipatia se extinguirá, porque teremos compaixão e não revolta, seja qualquer ato que a pessoa esteja perpetrando… Quando somos ofendidos e reagimos negativamente, às vezes até com grande alarde, é o mesmo que o contágio de determinada moléstia… A infelicidade de A, em nos atacando, provoca logo a nossa infelicidade. Vamos sentir no outro como um espelho em que nos miramos (…) Porque se esse exercício for colocado em prática, é muito difícil que tenhamos coragem de condenar, criticar, agredir alguém… É isto que o nosso Emmanuel pede que falemos. Não sabemos se interpretamos tão bem quanto possível. Mas a verdade é que, se nos colocarmos, não teoricamente, mas de alma e coração, no lugar da pessoa, encontraremos muitos motivos para perdoar e esquecer e ainda auxiliar essa pessoa!…”
“Se nós formos a um hospital de vez em quando, vamos ver o saldo da bênção que temos a cada dia – a bênção de nos levantarmos para o trabalho, o cérebro com o possível discernimento, a bênção de estudarmos os problemas da vida, das afeições de que dispomos, a bênção do lar, dos amigos.. Estamos aqui reunidos, pessoas de procedências diversas, pessoas que nós não conhecemos intimamente, entretanto estamos unidos na mesma vibração de fé, de esperança, buscando entender a nossa vida através da palavra de Jesus, que a Doutrina Espírita nos oferece (…) sentimos fome de conhecimento… Sem paciência, estamos suscetíveis de reações infelizes, atitudes pouco recomendadas (…) Nós todos estamos aqui recebendo uma bênção – a bênção da fé nos Planos Superiores que nos regem, para tentar compreender esta vida… Vamos agradecer de todo o coração, sem qualquer disposição de crítica ou azedume perante as pequenas alfinetadas que possam surgir em nosso prejuízo no dia-a-dia (…) nos inclinemos um pouco para recolher a bondade de Deus de mil modos em nosso favor… Precisamos mais paciência com nós mesmos, sem a possibilidade de nos elevarmos de um dia para outro; aceitar os nossos erros, as críticas, entendendo que, de fato, nós podemos errar… Precisamos dar graças à Providência Divina por encontrarmos amigos que nos advirtam, para que cheguemos a um conhecimento mais seguro sobre nós mesmos, A paciência não é uma atitude apenas com o plano externo da vida, mas com nós mesmos, para que não venhamos a sofrer desânimo dos nossos ideais. Estejamos com a paciência, tanto quanto a paciência de Deus está permanentemente conosco…”
“— É, minha filha, o problema do fumo é muito delicado e difícil de solucionar assim como todos os costumes que temos firmemente arraigado em nosso psiquismo, Não podemos fazer a expulsão abrupta dos nossos vícios, pois aí estaremos ameaçados pela sua volta repentina e inesperada. No caso do fumo, nós temos que pensar assim: o cigarro é tão bom, ele nos acompanhou durante tantos anos, ajudou-nos em nosso nervosismo, foi nosso companheiro dedicado na solução de tantas dificuldades. Mas nós temos que falar e acreditar em nossas palavras, pois se nós fumamos durante muitos anos, se estamos querendo libertar-nos dele, é porque nós não estamos precisando mais do fumo. E se o espírita já sente este desejo como imperiosa necessidade, naturalmente o cigarro também colaborará nessa libertação. Porém este desejo tem que ser firme e valioso, pois na natureza nada se faz com violências e até os vícios têm que ser tratados com respeito e educação, para poderem ser mais facilmente debelados.”
Trecho do livro “As Bênção de Chico Xavier” – Editora DIDIER – Carlos A. Baccelli.