“Outro dia estava me sentindo muito mal e comecei a pensar:
— Meu Deus! Estou sem poder andar, quase sem poder escrever aos amigos, quase sem poder psicografar, quase sem poder ouvir, minha voz está um sopro…
Perguntei ao Espírito de Emmanuel:
— Quando é que eu vou?
E ele me respondeu:
— Nem fale nisso. Enquanto você estiver podendo fazer uma prece por alguém, estará sendo útil”.
“Às vezes queremos uma libertação antecipada de nossas dores. Muitas provas foram escolhidas por nós, antes de renascermos, para não incidirmos nos mesmos erros. A libertação antecipada pode ser uma ruína, não um benefício para nós. A doença do corpo pode significar a cura do espírito”.
“Os anjos (espíritos puros) têm muita pena de nós, porque eles já passaram por todo esse sofrimento que estamos passando. Só que não existe outra maneira de evoluir. Temos de passar pela fieira da ignorância e do sofrimento”.
“Toda vez que as circunstâncias te induzam a ouvir as verdades do Evangelho, não penses que o acaso esteja presidindo a semelhantes eventos. Forças divinas estarão agindo a fim de que te informes quanto ao teu próprio caminho”.
“Toda vez que a Justiça Divina nos procura para acerto de contas, se nos encontra trabalhando em benefício dos outros, manda a Misericórdia Divina que a cobrança seja suspensa por tempo indeterminado”.
“Chico estava psicografando “Nosso Lar”. Numa das raras pausas que se permitia, saiu para fazer a barba. O barbeiro era dos antigos. Metódico, colocou-lhe a toalhinha sob o queixo, ensaboou-lhe o rosto. Esta rotina ordeira foi interrompida na primeira raspada:
— Chico, estou sentindo muita tonteira. Parece que vou desmaiar.
Posto em descanso no relativo conforto da cadeira, olhos cerrados, Chico inquietou-se, abriu os olhos e viu um espírito trevoso que enleava o barbeiro, dizendo-lhe aos ouvidos:
— Corta a garganta dele… corta.
Com o fio da navalha sobre o pescoço do Chico, o pobre homem não via nem ouvia o espírito, mas sofria-lhe as influências. Daí, aquelas sensações estranhas, o afrouxamento dos controles. Voltou a dizer:
— Chico, não sei se vou dar conta de terminar sua barba.
— Não se preocupe, meu irmão. Barba é assim mesmo, a gente faz quando dá certo. Se não der hoje, a gente faz amanhã.
Naquele momento, conta o Chico depois de uma pausa na conversa, tudo o que eu queria era que ele tirasse a navalha do meu pescoço.
Concluindo, explicou que eram as trevas querendo impedir que “Nosso Lar” fosse concluído e viesse à luz espargir luz”.
“A multidão continuou desfilando. Todos lhe beijavam a mão e ele beijava a mão de todos.
Lá pelas tantas da noite, quando a fila havia diminuído sensivelmente, percebi que seus lábios estavam sangrando. Ele havia beijado a mão de centenas de pessoas.
Fiquei com tanta pena daquele homem, nos seus oitenta e oito anos, mais de setenta dedicados ao atendimento de pessoas, que me atrevi a lhe perguntar:
Por que você beija a mão deles?
A humildade de sua resposta continuará emocionando-me sempre:
Porque não posso me curvar para beijar-lhes os pés”.
Trecho do livro “Momentos com Chico Xavier” – Adelino da Silveira.