“Conversávamos sobre a responsabilidade do espírita perante a Doutrina. Chico, autografando a ponta da mesa e atendendo as pessoas que o buscavam, parecia alheio aos nossos comentários quando, para nossa surpresa, aparteou:
— O espírita não é melhor do que ninguém, mas ele tem a obrigação de ser melhor do que é…”
“Trocávamos impressões sobre as atividades assistenciais de uma casa espírita, quando Chico considerou:
— Emmanuel sempre nos diz que quem puder fazer mais, deve fazer, mas que, não raro, um simples prato de sopa a quem tem fome vale por uma instituição inteira, porquanto um prato de sopa pode fazer pela pessoa que o receba o que um livro não faz, uma palestra não faz e, do ponto de vista material, uma casa espírita também não faz…”
“Certa vez, dialogávamos em torno de companheiros de ideal que perdem a simplicidade e, fascinados por si mesmos, não mais escutam ninguém, nem os espíritos em suas orientações. Ajeitando os óculos com seu modo característico, Chico observou:
— Quem perde a simplicidade perde o endereço da paz. Por isto, a vida inteira tenho repetido para mim mesmo que não passo de um “cisco”… A ilusão de si mesmo é um dos maiores problemas para o espírito no Além… Tenho visto muitos que, de tanto cultivarem o personalismo, acabam perdendo a própria identidade.
É muito triste!…”
“Naquela noite, Chico estava adoentado. Chegamos para visitá-lo e o encontramos de cama. Ao seu lado, permanecemos na expectativa de que melhorasse, enquanto amigos insistiam pela visita do médico. Antes que aquiescesse, permitindo que o médico viesse vê-lo, Chico disse:
— Está bem, já que insistem, podem chamá-lo, mas antes quero o remédio da minha fé… E pediu que lhe fosse transmitido um passe!”
“A humildade do Chico se evidencia em todas as suas atitudes, notadamente no exercício da mediunidade. Era comum que, após receber esta ou aquela mensagem de um espírito dirigindo-se aos familiares presentes, ele perguntasse:
— Será que eles ficaram satisfeitos?! Vocês viram se aceitaram a mensagem por autêntica?!…”
“Chico nunca precisou de relógio para saber as horas… Certa madrugada, quase ao término das atividades no” Grupo Espírita da Prece “, alguém perguntou as horas a um amigo. Antes, porém, que ele respondesse, Chico disse:
— São 10 minutos para as 4 da manhã!…
Surpreso, o companheiro que portava diminuto relógio de pulso, confirmou, questionando, em seguida, ao médium, sobre o seu espantoso acerto…
Sorrindo, Chico respondeu matreiro:
— Meu filho, foi um simples palpite…
E arrematou, sorrindo ainda mais:
— Mas não me perguntem sobre bilhete de loteria, pois compro sempre e nunca ganhei.”
“Chico nos disse certa feita:
— Nos primeiros tempos da mediunidade, conversando com os amigos, eu, às vezes, podia ver do que é que eles haveriam de morrer… Então, eu sofria muito, porque conseguia enxergar a doença por dentro deles, sem que nada pudesse dizer… Pedi a Emmanuel que me bloqueasse qualquer percepção neste sentido, pois era muito triste para mim nada poder fazer.”
Trecho do livro “As Bênçãos de Chico Xavier” – Editora DIDIER – Carlos A. Baccelli.