E andei pelo Mundo, procurando a luz da paz.
Fui à Grécia, admirando o Partenon e lugares outros em que pontificaram sábios da antiguidade;
dirigi-me a Roma, onde me acomodei nas escadas do Coliseu, refletindo nos cristãos perseguidos;
viajei para a Índia, onde partilhei as orações dos crentes que se banhavam nas águas do Ganges, em Benarés;
segui para o Egito, maravilhando-me à frente das Pirâmides que imortalizam a pompa dos faraós;
transitei pelas ruas de Meca e orei com os muçulmanos, entre as recordações do iluminado Profeta do Islã;
busquei Paris e conheci a Torre Eiffel, orgulho da França;
visitei o Palácio de Versalhes, moradia de reis e fidalgos ilustres;
encaminhei-me para Londres, encantando-me ali com a severa nobreza do Castelo da Torre;
na Espanha, conheci o Escurial, nos arredores de Madrid, cheguei a Granada e entrei no castelo do rei Boabdil que encerrou, naquele País, o domínio dos Árabes e voltei-me para Barcelona, onde admirei a fortaleza de Monjnich;
apreciei a riqueza artística dos Jerônimos e usufruí as amenidades de Sintra, em Portugal;
fui a Nova York onde expressei o meu respeito pela inteligência humana, diante dos arranha-céus que lhe assinalam a grandeza;
caminhei através de todas as grandes cidades das Três Américas, mas não encontrei a luz da paz.
Saudoso do lar, regressei a nossa casa em Vila Nova Conceição em São Paulo.
Era noite e minha mãe lia o Evangelho. Abracei-a emocionado e li o texto exposto. Era a Parábola do Bom Samaritano.
As palavras falavam em letras que me ficaram na memória:
– “Então, um doutor da lei perguntou abeirando-se do Divino Mestre:
– Senhor, que deverei fazer para possuir a vida eterna?
– Cristo sorriu e considerou:
– O que está escrito na Lei, o
que lês nela?
O homem acentuou:
– Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, com as tuas forças de espírito e ao próximo como a ti mesmo.
Entretanto o Doutor da Lei ainda inquiriu para o tentar:
– Senhor, e quem é o meu próximo?
Jesus, explicou, usando brandura e paciência:
– Um homem que se dirigia de Jerusalém para Jericó caiu em poder dos salteadores que o despojaram, cobriram-no de ferimentos, deixaram-no semi-morto.
Um sacerdote, que passou perto da vítima, estugou o passo e seguiu para frente, negando-lhe atenção.
Logo após, um levita passou pelo mesmo lugar, mas não se interessou pelo ferido, seguindo adiante.
Mas um samaritano, que viajava, comoveu-se ao ver o homem caído, desceu do animal e, aproximando-se do desconhecido, dirigiu-lhe palavras de conforto, balsamizou-lhe as feridas e colocando-o sobre o animal, levou-o à hospedaria onde lhe ofereceu abrigo e segurança.
Jesus fez pequena pausa e interrogou:
– A seu ver, qual dos três era o próximo do infeliz?
O doutor respondeu:
– Aquele que usou de misericórdia para com ele.
Num gesto simples, o Cristo lhe observou:
– Então, vai e faze tu o mesmo.”
Chegados ao término da leitura, um telefone tilintou.
Minha mãe foi atender e compreendi para logo o que se passava.
Uma senhora jazia em estado grave e a amiga que suscitara a chamada pelo fio comunicou que a doente pedia o socorro de uma prece. Minha mãe não teve dúvidas. Chamando o Papai Raul e dando-lhe ciência do problema, ambos, logo após, tornaram o carro na direção indicada.
Segui junto deles e pude ver a doente que se aproximava da agonia.
Minha mãe e outras senhoras pediram a Misericórdia de Deus para a enferma e, embora se afastassem, entendi que o meu dever era permanecer ali na tarefa do auxílio.
Junto de Benfeitores que ali se mantinham, trabalhei toda a noite no aposento simples.
O dia amanheceu com melhoras positivas para a doente e, conquanto me sentisse cansado, reconheci que uma alegria diferente me nascia no coração.
Chorando de felicidade, reconhecia, por fim, que eu, que me decidira a transitar pela Terra, procurando o dom sublime, encontrara-o ali, no gesto de minha mãe ao lado de meu pai Raul, compreendendo que o amor ao próximo que Jesus nos legou, sentido e praticado devidamente, é a única força que realmente nos concede a luz da paz por dentro do coração.
Orientação extraída do Livro “Augusto Vive”, psicografado por Francisco Cândido Xavier, edição GEEM.